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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Anticoncepcionais Orais - Mitos, Verdades e Recomendações

  

    A Pílula - como são popularmente conhecidos os contraceptivos orais - possivelmente é o método de contracepção mais comum no mundo: calcula-se que nada menos que 90 milhões de mulheres no mundo todo façam uso da Pílula! Os anticoncepcionais atuam evitando que ocorra a ovulação - liberação de óvulo pelos ovários, que se dá por volta do 14º dia do ciclo menstrual.
     Com esse número de usuárias, não é de se espantar que os anticoncepcionais orais (ou, abreviando, ACOs), façam parte do seleto grupo de medicamentos mais exaustivamente pesquisados desde o seu surgimento, há cerca de 35 anos.
Apesar de nenhum método contraceptivo ser isento de riscos, estes tendem a ser mínimos e contrabalançados pelos benefícios. Um bom acompanhamento médico pode ajudar a reduzir os riscos em potenciais durante o uso.
     Em março de 1996, um grupo de pesquisadores internacionais reuniu-se para desenvolver um consenso quanto aos parâmetros essenciais no acompanhamento das mulheres em uso de contraceptivos orais. Decidiram que deve-se (1) prestar atenção especial aos antecedentes pessoais e familiais de doenças e riscos cardiovasculares das pacientes e (2) realizar aferições regulares da pressão arterial, uma vez que complicações cardíacas (infarte) e vasculares (tromboembolismo venoso) sabidamente relacionam-se ao uso da Pílula.

15 Perguntas e Respostas para Mitos Freqüentes Envolvendo a Pílula
01 - Parar de tomar pílula pode causar acne.
Verdade. Os androgênios (hormônios masculinizantes) têm sido implicados na etiologia da acne vulgar, possivelmente por intensificar a hiperceratose folicular. Os ACOs reduzem os níveis sangüíneos de androgênios e, dessa forma, podem colaborar para diminuir a gravidade da acne. Por outro lado, com não existem verdades absolutas na medicina, em algumas raras mulheres a acne pode ser um efeito colateral da pílula. 

02 - Alguns remédios podem anular o efeito do anticoncepcional.
Verdade. Sabe-se que a ampicilina, por exemplo, um antibiótico bastante comum e utilizado no tratamento de infecções urinárias, faringo-amigdalites e pneumonias, entre outros, pode reduzir a eficácia dos ACOs. Ainda, várias drogas anti-convulsivantes (utilizadas no tratamento de diversas formas de epilepsia) podem diminuir a eficácia dos anticoncepcionais orais. Nesses casos, a mulheres devem se certificar de que o contraceptivo oral escolhido contenha pelo menos 50 microgramas de etinil-estradiol ou mestranol.

03 - Mulheres que usam pílula têm maior risco de câncer de mama e de útero.
Vamos por partes. O risco de câncer de mama é praticamente o mesmo entre usuárias e não-usuárias de ACOs. Nos tumores malignos do endométrio (camada mais interna do útero) e do ovário, a pílula exerce um efeito protetor - as usuárias de ACOs apresentam metade do risco de câncer de endométrio e ovário das não-usuárias.
Entretanto, o uso de contraceptivos orais por mulheres jovens parece associar-se ao surgimento de miomas uterinos (tumores benignos) na pré-menopausa, mas são necessários outros fatores reprodutivos (a pílula não leva a culpa sozinha...).
Quanto à relação entre câncer de cérvice uterina e uso de ACOs, parece não existir consenso - alguns estudos indicam um aumento na incidência, mas nada está definitivamente comprovado.

04 - Pílula engorda.
Ainda que o ganho de peso esteja entre as queixas mais comuns das mulheres que utilizam ACOs, estudos mostraram que isto pode não ser completamente verdadeiro. Uma pesquisa recente avaliou a variação de peso de 128 mulheres em uso de contraceptivos orais durante 4 meses e descobriu que 72% das pacientes não apresentaram qualquer alteração de peso no final do período. Assim, queixar-se de ganho de peso já não é a melhor desculpa para interromper o uso da pílula...

05 - Pílula faz mal para o cabelo.
Não existem evidências científicas comprovando este fato.

06 - A pílula me encheu de varizes.
Os ACOs possuem diversos efeitos sobre o sistema cardiovascular e é possível que estejam envolvidos de alguma forma no desenvolvimento de teleangiectasias (varizes), mas as pesquisas produziram resultados controversas até o momento.
07 - Depois que comecei a tomar a pílula, meu humor mudou.
Podem ocorrer náuseas, dor de cabeça, dor nos seios, sangramentos vaginais irregulares e depressão nos primeiros meses de uso da Pílula, mas estes efeitos colaterais freqüentemente cessam após alguns meses.

08 - A Pílula pode ser usada no tratamento da endometriose.
ACOs realmente fazem parte do tratamento não-cirúrgico desta doença. Progestinas isoladamente podem ser úteis e são a primeira escolha de muitos especialistas.

09 - Depois que comecei a tomar a pílula, não tive mais cólicas menstruais.
A menstruação dolorosa (chamada de dismenorréia pelos médicos) é menos freqüente nas mulheres que não ovulam. Por isso, os ACOs podem ser úteis em 70-80% dos casos de dismenorréia. Quando a pílula é suspensa, as mulheres geralmente sentem a mesma intensidade de dor que apresentavam antes do seu uso.
Todavia, alguns ACOs podem estar associados à ocorrência de hipermenorréia (menstruação muito volumosa e intensa) e a falta de controle de problemas no ciclo menstrual, caracterizada principalmente por sangramentos irregulares e menstruações dolorosas, são problemas comuns enfrentados por algumas usuárias de contraceptivos orais, sendo uma das principais razões de suspensão do uso - cerca de 1/3 das mulheres em uso de ACOs apresentam sangramentos (spottings)intermenstruais.

10 - Mulheres que tomam Pílula demoram mais para engravidar quando param.
Verdade. O retorno à fertilidade em mulheres que interromperam o uso de ACOs leva mais tempo quando comparado às mulheres que interromperam outros métodos contraceptivos, mas não parece haver prejuízo da fertilidade como um todo. 

11 - Com o tempo, a Pílula ajuda a proteger os ossos.
Algumas pesquisas têm mostrado que o uso de altas doses de ACOs em mulheres após a menopausa diminui o risco de fraturas e suspeita-se que seu uso possa melhorar a densidade mineral óssea em mulheres jovens, mas faltam maiores comprovações científicas.

12 - Mulheres com doença falciforme não podem tomar Pílula.
Mulheres com drepanocitose (doença falciforme) freqüentemente não fazem uso de contraceptivos orais contendo estrogênio e progesterona, pois preocupam-se com a possibilidade dos hormônios piorarem a doença. Estudos laboratoriais não encontraram evidências comprovando este temor.

13 - Mulheres com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) não devem tomar Pílula.
Verdade. Os contraceptivos orais podem precipitar episódios de LES em mulheres portadoras desta doença.

14 - Tenho mais de 40 anos e acabei de ter minha última menstruação. Não preciso mais tomar pílula.
Perigo! Este tipo de comportamento está arriscado a ser premiado com uma gravidez indesejada. Nas mulheres que estão entrando na menopausa, recomenda-se o uso de ACOs por 12 meses após a última menstruação.

15 - A Pílula pode piorar a asma.
Mentira. As alterações nos níveis hormonais parecem ter um papel importante na gravidade da asma nas mulheres e cerca de 30 a 40% das mulheres apresentam flutuações na gravidade das crises relacionadas ao ciclo menstrual. A crise tende a ocorrer três dias antes e durante os quatro dias da menstruação. Os anticoncepcionais orais podem ajudar estes casos, nivelando as flutuações hormonais.

Precauções e Contra-indicações no uso de Contraceptivos orais
Apresentamos abaixo uma lista de possíveis situações que devem ser consideradas e discutidas com seu médico antes de escolher um método contraceptivo.
A Pílula não é recomendada em mulheres com:
- Tromboflebite ou distúrbio tromboembólico ou história de coagulopatia.
- História de acidente vascular cerebral (derrame).
- História de doença arterial coronariana, angina pectoris, ataque cardíaco, insuficiência cardíaca ou valvulopatia cardíaca.
- Insuficiência renal.
- Antecedentes ou suspeita de câncer de mama ou câncer estrogênio-dependente em órgãos reprodutivos.
- Gravidez confirmada.
- Tumor de fígado ou Hepatite aguda.
Recomenda-se acompanhamento médico regular e criterioso para as mulheres em uso de contraceptivos orais que apresentem qualquer um dos seguintes itens:
- Sejam fumantes e tenham mais de 35 anos de idade (os riscos são ainda maiores naquelas que fumam mais de 15 cigarros/dia)
- Enxaqueca após o uso de contraceptivos orais
- Diabetes ou Diabetes gestacional
- Cirurgia eletiva de grande porte, com ou sem previsão de imobilização prolongada
- Sangramento vaginal/uterino de origem obscura
- Drepanocitose (Anemia Falciforme)
- Mulheres na fase de aleitamento
- Doenças da vesícula biliar ou icterícia
- Mulheres com mais de 50 anos de idade
- Doenças do coração ou rins, ou história familiar (especialmente mãe ou irmãs) de morte por doença cardíaca antes dos 50 anos de idade.
- História familal de hiperlipidemia (excesso de gordura no sangue)
- Retardamento mental, doenças psiquiátricas, alcoolismo, dependência de drogas ou qualquer outro distúrbios que dificulte a utilização regular da medicação

Referências Selecionadas:
1. Brinton LA et al Modification of Oral Contraceptive Relationships on Breast Cancer Risk by Selected Factors Among Younger Women. Contraception, Vol. 55, pp. 197-203, Apr. 1997.

2. Cromer BA, Blair JM, Mahan JD, Zibners L, Naumovski Z. A prospective comparison of bone density in adolescent girls receiving depot medroxyprogesterone acetate (Depo-Provera), levonorgestrel (Norplant), or oral contraceptives. J Pediatr 1996;129: 671-6.

3. Chasen-Taber L, Stampfer MJ. Epidemiology of oral contraceptives and cardiovascular disease. Ann Intern Med 1998;128:467-77.

4. Chasan-Taber L et al. Oral Contraceptives and Ovulatory Causes of Delayed Fertility.Am J Epidemiol, 1997;146:258-265

5. Hennekens CH, Evans D, Peto R. Oral contraception, cigarette smoking and myocardial infarction. Br J Fam Plann. 1979;5:66-67.

6. Krauss GL, Brandt J, Campbell M, Plate C, Summerfield M. Antiepileptic medication and oral contraceptive interactions: a national survey of neurologists and obstetricians. Neurology 1996;46:1534-9.

7. Marshall LM, Spiegelman D, Goldman MB, et al. A prospective study of reproductive factors and oral contraceptive use in relation to the risk of uterine leiomyomata. Fertil Steril. 1998;70:432-439.

8. Miller DM, Helms SE, Brodell RT. A practical approach to antibiotic treatment in women taking oral contraceptives. J Am Acad Dermatol 1994;30:1008-11

9. Redmond GP, et al. Norgestimate and ethinyl estradiol in the treatment of acne vulgaris: a randomized, placebo-controlled trial. Obstet Gynecol 1997;89:615-22.

10. Rosenberg M. Weight change with oral contraceptive use and during the menstrual cycle: results of daily measurements. Contraception. 1998;58:345-349.

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